quarta-feira, 23 de abril de 2014

Salve Jorge!!!:



É vinte de abril de 2014, dia de São Jorge.
Santo extremamente popular no Brasil, tem em sua trajetória histórica um laço muito forte com os portugueses. E, é justamente essa devoção lusa que atravessou o Atlântico que foi o início  do culto ao Santo Militar na terra brasilis.

São Jorge faz parte do rol de santos que sofreram suplícios no ínicio da Era Cristã. Santos com essa característica (de terem morrido defendendo o Cristianismo) foram os primeiros a serem cultuados e tiveram grande apelo popular. O culto aos santos, aos seus corpos supliciados, às suas relíquias  e a crença na ressurreição destes mudou o imaginário e trouxe a convivência dos já falecidos para a sociedade dos vivos.

Ele possui mais de um relato hagiográfico e, por isso em 325 d.C , no Concílio de Nicéia todas as legendas sobre a sua vida foram consideradas apócrifas, mas, como o culto à ele já estava bastante difundido nas cidades do Mediterrâneo e outras do norte europeu, uma nova narração foi atribuída à sua vida e santidade: São Jorge contra o dragão.

Esta é a mais conhecida, e versa sobre como o intrépido militar salva a princesa Sabra do terrível dragão que exigia sacrifícios diários na cidade de Sylén (Líbia). Ele o mata com sua lança, livra a cidade da fera e, por fim consegue a conversão ao cristianismo dos habitantes daquele local. Como em todo relato, há várias versões. Esta é apenas uma dessas.
O dragão foi identificado como as doenças a serem curadas ou com as heresias a serem combatidas. Atualmente, ele é visto como os desafios que os seus devotos têm que enfrentar no dia-a-dia.


Esta é a representação mais conhecida de Jorge e que ajudou a construir o imaginário em torno do santo. Ela se difundiu a partir da Legenda Aurea, que é uma compilação sobre a história da vida dos santos (hagiografia) feita durante o medievo que alcançou bastante sucesso.No século XIV, já era patrono da Inglaterra, Portugal, Veneza e Gênova.

Jorge e os Lusos


São Jorge teve sua representação associada à um guerreiro, defensor da fé cristã e, protetor dos territórios e das pessoas. Durante a Reconquista Cristã (718- 1249) na Península Ibérica se tornou um importante símbolo na luta contra os mouros. Os portugueses vencedores neste conflito, agraciaram Jorge, com veneração pessoal dos seus reis da Dinastia de Borgonha, a começar com Afonso Henriques (1143-1185) construiu uma igreja em agradecimento e foi seguido por Sancho I (1181 - 1211) deu seu cavalo ao Santo  e, Afonso IV  (1325 -1357) evocava seu nome nas batalhas. 

Na dinastia de Avis, segundo os relatos intercedeu na Batalha de Aljubarrota (1385)  libertando os lusos de um possível julgo espanhol. Dessa maneira, se tornou padroeiro de Portugal através do rei D. João I (1357- 1433), mestre de Avis. Recebeu vários espaços, como o paço régio - denominado de Castelo de São Jorge -  e, nos campos de Aljubarrota foi construída uma Igreja para Santo.




Durante a expansão ultramarina, o seu nome foi levado para as novas terras: uma das ilhas dos Açores tem seu nome, na costa da Guiné há a Fortaleza de São Jorge da Mina e, aqui no Brasil a Freguesia de São Jorge de Ilhéus, na costa.

As procissões foram fundamentais para o culto se tornar cada vez mais popular: podemos citar a procissão de Corpo de Deus (1387) que era a festa mais importante da Igreja Católica Lusa, na qual a aparição da imagem de Jorge era o ápice da festa. Na procissão de Corpus Christi simbolizou a idéia de fundação da dinastia dos descobrimentos e, tornou o evento cívico e tradicional.

Jorge e o Brasil

As diferentes experiências sociais e, principalmente a escravidão e seu processo de negação das práticas religiosas dos escravizados permitiram/ forçaram o contato, difusão, associação e assimilação de entidades do panteão africano com santos católicos - esse processo é chamado de sincretismo religioso.

São Jorge não escapou à essa nova prática do sagrado: ele é associado ao orixá Ogum no Rio de Janeiro e, na Bahia à Oxóssi. Esta associação de São Jorge - Ogum é muito forte dentro dos terreiros de umbanda do Rio e também em outras regiões do país. Assim como São Jorge, Ogum é um orixá guerreiro e, essa  associação o tornou um santo extremamente popular.

Exemplos disso é uma cultura de consumo sobre a representação imagética de São Jorge em camisas, anéis, colares e etc, mas, que representam a fé e a simbologia da proteção no corpo de quem os usa. Na música, seus devotos expressa sua devoção sincrética ( a exemplo Zeca Pagodinho na música intitulada "Ogum") e, Jorge já virou até tema de novela da Globo - "Salve Jorge".


E como hoje é o dia dele, Salve Jorge!!!



Profª. Joyce Pereira

Um comentário:

  1. Excelente texto,mas ao olhar para este retrato na casa de minha sogra,tive a nítida impressão de se tratr de Carlos Magno...expansionando o catolicismo e exterminando "os dragões" das religiões dos conquistados...será?

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